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domingo, 16 de agosto de 2009

Esportivos Nacionais



Lembro-me de algumas coisas de quando era criança, olhava para as ruas e via carros e mais carros, que como sempre me fascinavam, era capaz de ficar horas em uma janela onde meu pai trabalhava olhando para eles e dizendo o nome de todos que passavam, Opalas, Corcéis, Fuscas, Chevettes, Gols, Santanas, entre outros!



Quando criança sempre quis andar na frente, em pé e solto no banco do passageiro, sem que ninguém me segurasse, cinto de segurança? O que? Aquilo eram os anos 80! Parece que queria poder sentir e me segurar junto ao carro em pé no banco, eu devia ter entre 2 e 4 anos nessa época, dizem até acabei prendendo os dedos na porta de uma Vw Parati que meu pai teve, perdi algumas unhas, mas nem por isso deixei de gostar de carros.

Alguns anos depois quando tinha por volta de 7 anos, lembro dos esportivos Ford Escort XR3 vermelho e do Vw Gol GTi azul, todo mundo queria ter um desses na época, eram os carros dos sonhos, as importações ainda não haviam sido abertas, então o que víamos ali era o topo da industria automobilística, mal sabia o que existia em outros países, já tinha ouvido falar em Ferrari e Porsche, mas não tinha a menor idéia do que um deles era capaz, então XR3 e GTi eram os melhores para mim, melhor que estes carros só os Formula 1 que Ayrton Senna pilotava.

Antigamente, quando se via um esportivo, ele realmente era esportivo, ele realmente tinha diferença dos demais modelos, ele realmente se comportava como esportivo, hoje em dia, para algumas montadoras, o que importa é a ‘maquiagem’, fazem carros que são exatamente a mesma coisa dos modelos normais apenas com uma roupagem esportiva, salvo poucas exceções, como Honda Civic Si e Vw Golf GTI, os outros são apenas os mesmos modelos com um adesivo bonitinho escrito ‘SS’, ‘1.8R’ e ‘XR’, apenas alterações visuais.

No caso do Gol GTi e Escort XR3 do final dos anos 80, a diferença deles além de serem externamente ‘agressivos’ era que seus motores apresentavam diferença dos demais, o GTi foi o primeiro automóvel nacional a utilizar injeção eletrônica de combustível e tuchos hidráulicos no motor que o tornava o carro mais rápido e moderno do Brasil, já o XR3 usava um carburador diferente dos outros modelos de Escort, mais esportivo, com giclês maiores e comando de válvulas de maior abertura que dava maior potência ao motor. Nas minhas memórias de criança estes eram dois mitos.

Antigamente aqui mesmo no Brasil, sem muitos recursos, sem muita tecnologia, as montadoras ou mesmo interessados no assunto criavam seus esportivos, e assim surgiam para o mundo do automóvel os fora de série e marcas como Gurgel, Puma, Santa Matilde, Brasinca, Miura, entre outras que faliram assim como estas, mudaram de ramo, ou foram esquecidas pelo meio do caminho desde a abertura das importações pelo presidente Collor.

O certo é que havia interesse de se fazer algo diferente, usar um motor de um DKW e colocar em uma carroceria leve, mais aerodinâmica e com suspensões mais adequadas a um esportivo, surgia assim o GT Malzoni, criado por Rino Malzoni, que acabou se transformando no núcleo da Puma Veículos, que depois usava motores Volkswagen refrigerados a ar, os famosos motores dos Fuscas em carrocerias leves que davam desempenho muito satisfatório para a época, os SM da Santa Matilde usavam mecânica de Opala em carrocerias de fibra de vidro também, prezando sempre o desempenho.

Aparentemente fazer um esportivo parece fácil, pegue uma carroceria leve e coloque um motor de um carro mais pesado e pronto. Assim, aumenta-se a relação peso/potência e o desempenho fica muito mais satisfatório. Foi assim com o Brasinca Uirapurú, que usava motor de caminhonetes Chevrolet, com o Puma GTB que assim como o SM usava mecânica de Opala, mas é preciso procurar tecnologia e se preciso desenvolvê-la mesmo sem recursos. Estruturas deformáveis em caso de batidas, como o SM, e um carro que no s anos ’80 foi um marco de tecnologia por aqui, o Miura, hoje em dia parece até ‘brega’, mas na época era o que havia de mais moderno por aqui, portas que abriam por controle remoto e sem maçanetas, faróis escamoteáveis que privilegiavam a aerodinâmica, comandos de voz para apertar o cinto de segurança e neons na iluminação.

Naqueles tempos em que não havia importação, a industria nacional de automóveis de ‘fundo de quintal’ desenvolveu-se, aprendeu a criar de onde não existia, claro que os carros das montadoras eram verdadeiras ‘carroças’ como dizia nosso ex-presidente, mas quando as importações foram abertas, não souberam salvar quem ainda estava engatinhando por aqui e que tinha potencial de ser grande e lutar por espaço, nos anos 80 a Gurgel tinha um projeto para o desenvolvimento de um automóvel elétrico, que foi abandonado por falta de apoio do governo, além de muitos falarem na época que era apenas bobagem, e agora a onda do momento são os carros elétricos, todas as montadoras tem seus projetos, hoje poderíamos estar dominando esta tecnologia, assim como aprendemos a extrair petróleo em alto mar e desenvolvemos em tempo recorde do motor a álcool. Sem incentivo não vamos a lugar algum, nenhuma idéia pode ser descartada, por mais absurda que pareça.

Sinto falta de ver automóveis diferentes nas ruas, como via antes, a criatividade dos brasileiros sendo testada, mas parece que a coisa está mudando, ressurge, mesmo que novamente engatinhando, a indústria fora de série, Lobini fabrica seu automóvel esportivo usando itens de outra marca, sempre usando a criatividade e as vezes desenvolvendo tecnologia e criando novas soluções, outras pequenas industrias vão surgindo e apresentando seus projetos criativos e inovadores, o que não se pode fazer é parar, temos que continuar sempre e dar um jeito de se reduzir o preço dos carros aqui, o maior empecilho para se ter um carro que dê prazer em dirigir.

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